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Foto do escritorRedação

A Cidade Nunca Morre #8



Louize Lima*


Sendo sincera, mertiolate no joelho doía menos que amar. Eu nunca amei uma cidade antes. Mas eu já tentei mergulhar fundo nas águas da Ponta da Fruta numa tarde quente de domingo em Vila Velha. Saí com o ouvido entupido e perdi um chinelo. Mas meus pés até hoje estão juntos. Eles correm pelas ruas até doer, talvez seja isso que me faz querer deixar de amar tanto. Não é algo ruim, pois já levei até em cesta da minha bicicleta, senti o cheiro do mar, soltei as mãos e depois cai feio, até machuquei os joelhos. Demorou cicatrizar. Apesar de tanto desastre, amar continua sendo pior. É algo estranho, que corrói a alma. “Ai, por favor, chega, alguém tira isso de mim.” Sou uma mulher besta. Vivo escrevendo para dizer que estou viva, mas perco a linha quando falo de amor. “Amor? De alguém?” “Também”. Aliás, o ser humano vive amando, mas o que eu quero dizer que prefiro cair no ônibus na época do Terminal Dom Bosco, ou ficar no colo da minha mãe enquanto ela tapava meus ouvidos no meio da Terceira Ponte, do que amar uma cidade. “Por isso eu quero deixar de ser besta”. “Amar é ser besta o tempo todo, e daí?”. Consigo ouvir essas vozes no meu ouvido, esse diálogo entre mim e mim, o racional e emocional, e no meio da linha de trem tem o amor. O amor existe no meu doce favorito no Centro de manhã. Ele existe na rua inteira, aliás, são muitas experiências que me fazem doer a cabeça, pois se formam um mosaico complexo de amor, “como eu posso amar uma cidade, meu Deus?”. Não sei. Sou uma fotografia de Ian Keller em Romeo and Juliet de 1976. Estou nesse embalo sublime e misterioso e prefiro mertiolate do que amar uma cidade de novo. “Eu juro. Dói. E é lindo”.


*Louize Lima - Apesar de ter nascido na capital, sempre morou em Vila Velha. "Me mudei para Minas Gerais em 2014, e nesse momento percebi que esse grande sentimento de pertencimento à Grande Vitória não era algo fútil. Assim, comecei a escrever o que sentia. Logo, voltei para o ES em meados do ano passado e reuni tudo que eu tinha escrito, durante o período que morei fora e publiquei no Medium — ascendendo o meu amor por crônicas da cidade. Aos 19 anos, ser graduanda em Letras pelo Instituto Federal do Espírito Santo e ter toda essa bagagem profissional, tem colaborado cada vez mais para que eu exerça o amor que sinto pela Grande Vitória".

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