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A Cidade Nunca Morre #9


Por Louize Lima*


Se esse barulho das ondas que chocam é meu desejo de ir e vir, morrer na areia. Se o ruído dos carros são a vida passando. Essa vida que tenho medo de conhecer. Eu mostro meu diário secreto, as luzes se vão, as pessoas se cansam, assim como quem pega um ônibus e parte para casa. Me vejo fantasma na cidade-presépio. O mar ainda murmura e eu tive que aprender a escutá-lo. Morrer na areia. A memória que é sempre sofrimento. Me verão na praça, extremamente aflita, em busca das luzes que se foram, da audição que tiraram de mim. Não ouço o ruído dos carros, da vida passando.


O que é viver numa cidade sem ter que esquecer as angústias?

Adormeço em meu leito, do outro lado da ponte, que nunca termina, como se não as mágoas. Morrer na areia é um ato de redenção. A alegria do íntimo se foi com as palavras das crônicas antigas, dentro dos cadernos com letras cursivas desalinhadas como o ruído dos carros, a direção desenfreada, a cidade que nunca morre. A cidade que ressalta a amargura do abandono, os dedos que percorrem as janelas, os velórios no porto que celebram o partir dos navios, que não morrem na areia, mas desaparecem na imensidão do mar. Morrer na areia como redenção ou desaparecer no mar como covarde? Lamento junto ao mar, ao vento, ao céu, às aves, às estrelas, às luzes cristalizadas que tiraram de mim. Quero voltar a levantar da areia e ir embora, como os que se deitam no verão. Os desertos imensos, a memória cruel, a caídas na coragem e na crueldade, o corpo que repousa da eterna fraqueza. Todas as meia-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido. As palavras de antologia poética que caem duras como pedra em nossas cabeças. A cidade que nos mostra que é preciso esquecer para vivê-la. O eterno enlouquecimento humano no movimento urbano.



*Louize Lima - Apesar de ter nascido na capital, sempre morou em Vila Velha. "Me mudei para Minas Gerais em 2014, e nesse momento percebi que esse grande sentimento de pertencimento à Grande Vitória não era algo fútil. Assim, comecei a escrever o que sentia. Logo, voltei para o ES em meados do ano passado e reuni tudo que eu tinha escrito, durante o período que morei fora e publiquei no Medium — ascendendo o meu amor por crônicas da cidade. Aos 19 anos, ser graduanda em Letras pelo Instituto Federal do Espírito Santo e ter toda essa bagagem profissional, tem colaborado cada vez mais para que eu exerça o amor que sinto pela Grande Vitória".

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