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As últimas gotas de chuva do ano




Caem as últimas gotas de chuva do ano. Mas não caem as últimas contas de chuva do ano. Porque o ano, como toda fração do calendário, é uma ficção, uma invenção do homem na tentativa - desde o início fracassada - de segurar o tempo pela cauda. Não se pode prender o tempo, fatiando-o como se fosse um pão a ser servido na ceia de Ano Novo. O tempo não é um pão, não é passível de corte, fissura, desmembramento. Mesmo não sendo pão, o tempo alimenta. Alimenta quem passa, alimenta quem fica, alimenta sobretudo quem vê as últimas gotas de chuva caindo e não se importa de dançar na chuva. O tempo não é um deus, mas pode muita coisa. O tempo não é o pão, mas é a faca que corta, é a lâmina que decepa. O tempo é o carrasco que arrasta a vida até o abismo. E só vive que não teme o abismo e aproveita o caminho. Feliz ano novo!


* Carlos Fonseca. Escritor, poeta, professor e juiz.



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