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Crônica | A Cidade Nunca Morre #12

Por Louize Lima*


Certo dia conversava com amigos, durante um passeio por uma praça próxima à Rua Sete, onde tomamos sorvete e viemos questionando o quanto Vila Velha não combinava com o inverno. A cidade seria mais solar, evocando Toxic do The Sufragettes e sabor de picolé de limão-siciliano aos domingos. Nós não enxergávamos nada parecido em Vitória. Não que isso influenciasse negativamente a cidade, pelo contrário. Eu observava na galeria de fotos do meu celular, num estado contemplativo, uma foto feita por mim, que captava parte da Praia do Canto, os carro descendo pela Terceira Ponte, a imensidão próxima ao Mestre Alvaro — que estava coberto pelas nuvens de cor azul-ciano escuro. O mar estava frio, pingos gélidos de chuva beijavam meu nariz. Do outro lado, Vila Velha parecia triste. Eu particularmente achava que o inverno caia bem em Vitória. Na chuva, eu gostava de caminhar a pé, e sentir a sensação que causava no trânsito, nos ônibus, os pedestres procurando por abrigo até cessar. Passava uma certa calma angustiante, os dias se esvaeciam vagarosamente, como as nuvens cinzas -  mas ao contrário, isso era ainda mais depressivo, em Vila Velha. Observava melancolicamente as ruas vazias em Itapuã. A orla, que costuma ser dominada pelos banhistas quase todos os dias, tinha um ar irresistivel de uma pós-humanidade com a névoa sobre o mar. Naquela atmosfera cinzenta, os contrastes tornavam-se mais intensos. Algo era certo, caminhando pelas duas cidades, o inverno me envolvia em uma dança poética com suas gotas de chuva, mas ao invés de me chamar para dançar, como Vitória fazia, Vila Velha vinha abraçando-me com uma nostalgia acolhedora. E eu adorava isso. Com ela, meus olhos buscavam refúgio no vazio que a chuva poderia ressaltar, e o som dela me embalava como uma trilha sonora suave. Enquanto contemplava as cidades envoltas em seus mantos cinzentos, entendia que cada estação tinha seu encanto, e o inverno trazia uma magia especial à Vitória, mas uma certa distopia aconchegante em Vila Velha. Naquele momento, o tempo parecia suspenso, e a conexão com as duas cidades era ainda mais profunda. Sei que, entre sorvetes ensolarados e chuvas melancólicas, continuo a minha jornada por essas duas cidades, sabendo que, independentemente da estação, elas vão me oferecer memórias das quais escreverei e trarei para cá. Sempre que deixo Vila Velha para trás, seu brilho único e solar permanece em meu coração, enquanto Vitória me abraça com sua chuva serena e poética ou seu pôr-do-sol pouco quente e silencioso, tornando-se parte de mim para sempre.



Por Louize Lima - Apesar de ter nascido na capital, sempre morou em Vila Velha. "Me mudei para Minas Gerais em 2014, e nesse momento percebi que esse grande sentimento de pertencimento à Grande Vitória não era algo fútil. Assim, comecei a escrever o que sentia. Logo, voltei para o ES em meados do ano passado e reuni tudo que eu tinha escrito, durante o período que morei fora e publiquei no Medium — ascendendo o meu amor por crônicas da cidade. Aos 19 anos, ser graduanda em Letras pelo Instituto Federal do Espírito Santo e ter toda essa bagagem profissional, tem colaborado cada vez mais para que eu exerça o amor que sinto pela Grande Vitória".





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