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Crônica | Leite quente, café torrado




Por Douglas Dantas*


Antes mesmo do sol raiar, ela estava de pé. Minha tia-avó, nova, mas com marcas que o tempo registra, estava ali na luta diária. Ordenhava as vacas e chegava com o caldeirão cheio de leite grosso e forte para ferver e coar.


Que leite, nunca mais tomei igual. O sabor puro da roça se ampliava com os cheiros de mato, sons de pássaros e dos macacos… esses nos assustavam e faziam rir. Mesmo longe, muito longe, a mata dos macacos era algo assustador.



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O tio dizia: para entrar lá é muito difícil e perigoso, eles dominaram tudo. Às vezes, vem passear pela fazenda quando falta comida por lá.


A manhã começava com o leite quente, bolo de fubá, bolinho de queijo, biscoito de polvilho e as coisas de fazenda. Sem contar o café, colhido, torrado e moído lá mesmo. Que só de lembrar do cheiro, mesmo após mais de 30 anos, lá da infância, entra nas narinas... Que café…


E assim o dia passava lento, com conversas e muito trabalho. Catar feijão, debulhar o milho, cortar a cana… tudo debaixo da gigantesca mangueira que cobria todo o terreiro do quintal da casa…




Falando de árvores, como não lembrar das jaqueiras, com enormes jacas que davam até quase ao chão… 


Incomunicáveis, comunicávamos muito mais. As ligações eram feitas no abraço da tia, no colo da mãe, nas brigas para sair do mato e da cachoeira para tomar banho... Assim, foram dias divertidos de férias.


O único pavor eram as aranhas, pareciam monstros gigantes. Como lembro, de mamãe sentada encostada na parede e a tia chegar devagar e dizer: não mexe. E, com um tição de fogo, matar uma enorme caranguejeira.





Hoje, não estão mais lá. As portas se fecharam, a lenha se apagou, e a poeira ficou para trás… mas as memórias vividas, vivas, continuam. 




*Jornalista profissional diplomado, editor do VVemDia, membro da Academia Capixaba de Letras da Diversidade, jornalista do Sindipúblicos, diretor do Sindijornalistas e vice-presidente SE da Fenaj. Atua há 23 anos no jornalismo tendo atuado nas mais diversas áreas da comunicação.


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Imagem Freepik





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