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Crônica | Vitória 472 anos. A cidade nunca morre #13

Por Louize Lima*


Desde a minha tenra infância, percebi que te amo. Aos 5 ou 6 anos, minha vida gravitava em torno do antigo Terminal Dom Bosco. Eu adorava observar os sucos girando na máquina, mesmo que nunca tivesse a coragem de prová-los. Hoje, quando passo pela Rua Dom Bosco, essas lembranças voltam como histórias de um passado muito pequeno. Lembro-me de como eu impacientava meus pais para dirigir pela Terceira Ponte. Minha excitação ao ver você em toda a sua glória era inabalável. O sol brilhando sobre o mar era a minha parte preferida, sempre foi. Na verdade, você sempre teve esse dom especial. Minha diversão consistia em romantizar as inúmeras consultas médicas como grandes aventuras urbanas. Especificamente, no Terminal de São Torquato, por volta das 17:00, eu fechava os olhos naquele ônibus abarrotado, encostava minha cabeça na janela e sentia o calor reconfortante do sol. Era quente, era acolhedor. Naquele momento, eu desejava morar ali, na Reta da Penha, para sempre, como se fosse um quadro belo a ser pintado repetidamente. Meus pais nunca entenderam, principalmente quando viajava e implorava loucamente para voltar para casa. Era uma dor insuportável, mas também uma saudade avassaladora. Eu tinha medo de nunca mais voltar. Quando tive que partir em 2014, viver em outra cidade por seis anos foi mais desafiador do que eu poderia imaginar. Lembro-me de chorar, imaginando como você estaria. Sempre foi minha melhor amiga, e eu te amei mesmo quando a distância parecia insuperável. Quando finalmente retornei, você me recebeu com um céu rosado e uma lua cheia deslumbrante, abrindo o tempo como um sorriso caloroso. Você permanecia a mesma, esperando por mim, exatamente como eu te deixei. Estou chorando enquanto escrevo isso porque, no fundo, ainda sou aquela menininha que sonhava com cafés na Reta da Penha, que implorava para passar de carro na Terceira Ponte, que pulava de alegria ao andar de ônibus pelas ruas, que queria voltar logo de viagem e sentir que não iria te abandonar nunca. Amava o píer do Shopping Vitória e a Praia de Santa Helena, era loucamente apaixonada pelo Centro. Vivi (e ainda vivo) os momentos mais incríveis da minha vida ao seu lado. Não consigo conceber a ideia de ter nascido em outro lugar com o mesmo brilho das suas manhãs. Não há outro lugar que combine tão perfeitamente com as músicas que escuto em repetição, que se encaixe nas minhas poesias, nas minhas loucuras e na minha história. Você é minha melhor amiga, meu porto seguro. No final do dia, quando cruzo a Cinco Pontes, olho para você e você olha para mim, sabendo que eu sempre volto. E eu sempre voltarei, mesmo que esteja do outro lado do mundo. Sempre imaginarei as luzes do Porto brilhando, o Aquaviário, o Penedo e você sorrindo em um belo céu azul-escuro, no final do dia. Nem mesmo o trânsito caótico consegue me abalar. Você tem o dom de tornar tudo belo, de resistir no meio do caos e da dor. Você é lar para tanta gente, e para mim, ultrapassa os limites dos significados de carinho e conforto. Nenhum tempo ou circunstância poderá extinguir a força que pulsa no âmago de uma cidade como você. À medida que os anos passam, você permanece como minha confidente silenciosa, minha morada onde os segredos mais profundos se aninham, minha única amiga cujo abraço nunca esmorece.

As palavras, por mais eloquentes que sejam, nunca poderão expressar plenamente o quanto nossas vidas estão entrelaçadas até as profundezas da alma. E essa inadequação da linguagem só reforça a profundidade desse laço indizível. Desde o início, compreendi que contigo, nada é em excesso, pois encontrar um nascer e um morrer em teu abraço é a única busca que meu coração persegue incansavelmente. Pois, ao teu lado, os impossíveis se dissolvem como a névoa matinal diante do teu alvorecer.  Minha cidade Presépio, você sempre será a melodia infindável do meu amor, o poema eterno que sussurra nos ventos das tuas praias, e minha promessa de que, onde quer que eu vá, meu coração sempre retornará a você. 

Eu te amo, Vitória.


*Louize Lima - Apesar de ter nascido na capital, sempre morou em Vila Velha. "Me mudei para Minas Gerais em 2014, e nesse momento percebi que esse grande sentimento de pertencimento à Grande Vitória não era algo fútil. Assim, comecei a escrever o que sentia. Logo, voltei para o ES em meados do ano passado e reuni tudo que eu tinha escrito, durante o período que morei fora e publiquei no Medium — ascendendo o meu amor por crônicas da cidade. Aos 19 anos, ser graduanda em Letras pelo Instituto Federal do Espírito Santo e ter toda essa bagagem profissional, tem colaborado cada vez mais para que eu exerça o amor que sinto pela Grande Vitória".


Foto: Governo ES / Tadeu Bianconi


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