Por Ítalo Wyatt*
Adianto uma coisa: não estou nada preocupado com as pompas literárias que os meus textos de outrora possuíam. É que de repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto.
Cheguei agora a pouco em minha estação de trabalho. Comprei um suco de laranja e um pão de queijo na padaria da esquina. Molhei a plantinha que nos protege da radiação. Li um salmo. Liguei o computador e organizei as agendas. Rabisquei alguns despachos.
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A vida é feita de detalhes. E agora, um pequeno detalhe comprimiu os trinta e três ossos do meu coração. No cantinho da mesa vejo um souvenir feito de biscuit que contém uma tradicional bandinha de forró. Em baixo, a descrição: João Pessoa-PB.
Recentemente, o meu relacionamento afetivo terminou. Num dos primeiros encontros, o meu bem havia me dito que tinha medo de eu não querer algo sério, profundo, para a vida. Por isso, tratei de comprar uma viagem para o Nordeste. Dividida em dez prestações e programada para quase um ano à frente, significava que eu havia colocado a sua presença no meu calendário. Seria uma lua de mel em Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Maragogi, litoral sul da Paraíba e João Pessoa.
Não conhecemos a Praia do Cabo Branco. Em Jampa, passamos apenas uma tarde. Levei o meu amor para ver comigo o pôr do sol, às margens da Praia do Jacarezinho. Quando a imensidão derramou-se sobre o braço de mar, numa canoinha de nada, Jurandy do Sax apareceu tocando o seu Bolero de Ravel. Aquela canção mais bela que todas as canções entravam nos nossos ouvidos como se, depois de tantas chegadas e partidas, houvéssemos encontrado a felicidade. O meu amor chorou de encanto. Deu-me a sua mão e beijou-me a face.
No dia dos namorados, dei-lhe uma caixa com os tradicionais doces dos anos 2.000 e um aparelho Nintendo. Meu bem sempre se queixara que não tivera uma festa na infância. Ofereci uma caixa de memória. Mas ainda assim, precisava pagar a dívida da sua incompletude. No mês de novembro fiz-lhe, então, a tão aguardada festa de aniversário.
Fiz o crível e o incrível. Ofereci afeto e futuro. Escrevi muitos poemas, contei estórias, levei para vários lugares. Cuidei como se fosse uma rosa que precisa de afago e proteção. Amei muito e amiúde. Vivi a plena entrega das horas de cuidado. Fiz de Caetano e Bethânia o nosso tema de fundo, quando experimentamos a beleza do ouvir o Rei Baiano cantar Sozinho, no Mineirão.
Você disse adeus. Agora eu vou embora.
Por Italo Samuel Wyatt é advogado, especialista em Direito Criminal e Segurança Pública, autor de obras literárias, membro da Academia de Letras de Vila Velha e colunista.
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Foto: Divulgação/Jurandy do Sax.
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