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Crônicas | A Cidade Nunca Morre



Por Louize Lima*


Preguiçosa, serena e de uma aura acinzentada, a primavera pedia permissão para entrar na Grande Vitória. Dessa vez, não haviam lágrimas. A cidade estava estoneante, isso poderia ser possível pois havia uma grande saudade de vê-la assim. Suas árvores molhadas complementavam a paisagem, o beijo nas águas as tornavam mais escuras, e haviam inúmeras narrativas que poderiam contar a história daquele (quase) início de primavera. Era gratificante pegar um ônibus no terminal e sair desbravando suas diferentes histórias metropolitanas. Ouvir a cidade também faz parte da construção de sua história. Eu adoro saber que cada pessoa caminhando, dirigindo carros e se apoiando nos ferros dos ônibus possui uma vida diferente e que são peças de um quebra-cabeça que chamamos de cidade. Eu gosto de imaginar para aonde elas vão, o que elas pensam, como são suas histórias. São nos encontros nas calçadas que também entendo o singelo movimento que é a vida. A vida esta que, já foi vivida e é relembrada por nossos pais, que aproveitaram uma outra época da cidade. Através dessas lembranças, cortar a região e entender o hoje é inevitável. A diversidade de momentos é uma grande característica daqui. Existem várias formas de entender uma cidade e viver é uma delas. Nas conversas de calçadas, os cumprimentos nos ônibus, as compras nos centros comerciais, nos caminhos dos subúrbios, esses são os elementos que me ajudam a co-criar as lindas noites que se despedem de mim quando passo na Cinco Pontes, as longas tardes de trabalho e as manhãs delicadas de algodão. Viver além do caos da cidade — aquilo que não aparece nos jornais — me faz ter esperança no futuro. Quero vários olhos, formas, cliques, narrativas, multiplicidade para compreender meu lugar favorito no mundo. Continuarei cantando minhas músicas e imaginando um filme de Agnes Varda, e como ela se sentiria lisonjeada em gravar na Grande Vitória. Pois motivos não faltam para admirá-la além dos filtros fotográficos. A amo de um jeito real, que me conta tanta coisa que me faz andar com um caderninho para acompanhar, que me faz sair sem rumo pra documentar em foto e vídeo as suas esquinas mais bonitas e a que nem todas as cartas de amor serão o suficiente pra amar.





Conheça Louize Lima - Apesar de ter nascido na capital, sempre morou em Vila Velha. "Me mudei para Minas Gerais em 2014, e nesse momento percebi que esse grande sentimento de pertencimento à Grande Vitória não era algo fútil. Assim, comecei a escrever o que sentia. Logo, voltei para o ES em meados do ano passado e reuni tudo que eu tinha escrito, durante o período que morei fora e publiquei no Medium — ascendendo o meu amor por crônicas da cidade. Aos 19 anos, ser graduanda em Letras pelo Instituto Federal do Espírito Santo e ter toda essa bagagem profissional, tem colaborado cada vez mais para que eu exerça o amor que sinto pela Grande Vitória".

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