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Entrevista | Advanir Rosa – Nova imortal fala do negro no ‘mundo das letras’ e na sociedade


Eleita recentemente como imortal da Academia de Letras de Vila Velha, a escritora Advanir Rosa da Silva Souza conversou conosco sobre como é ser uma das primeiras mulheres negras a assumir uma cadeira na instituição e a importância da representatividade e visibilidade desta pauta na sociedade.


VVemDia | Como é a sua trajetória literária, quanto tempo está na escrita?

Sou professora e pensava que só quando aposentasse iria conseguir me dedicar à escrever. Mas aproveitei o tempo sobrando em casa na pandemia, e em 2020 escrevi meu primeiro livro infantil e em 2021 publiquei o primeiro livro “A Mudança”. Este ano estarei publicando meu segundo livro infantil “Bruxas Diversas, Diversas Bruxas” e ano que vem um livro de poemas, para o público adulto e que conversa com a minha identidade. São questões sobre o universo da mulher preta.


VVemDia | Sobre o universo da mulher preta, como é ser uma das primeiras escritoras negra na Academia de Letras de Vila Velha?

Ter sido eleita para a Academia de Letras de Vila Velha, enquanto mulher negra foi muito importante. Acredito que para todas as mulheres pretas. Estando lá, estou levando toda ancestralidade e a representatividade da mulher preta. Um espaço importante conquistado para levar as vozes das mulheres pretas.


VVemDia | Como avalia a representatividade do negro na literatura, na sociedade?

A nossa representatividade, tanto na literatura, quanto na sociedade, ainda precisa melhorar muito. Já tivemos avanços, mas precisamos muito mais. Essa representatividade passa pela questão dor resgate de escritoras pretas que foram esquecidas ou apagadas da história, trazendo elas para a visibilidade. Também nós, mulheres pretas escritoras, precisamos continuar produzindo uma escrita para preto, que nos coloque no campo da literatura como alguém que pensa, que produz, que colabora para o campo da literatura.


VVemDia | Quais autoras negras avalia ter sido ‘apagadas da história’, esquecidas?


Sobre as autoras negras esquecidas ou até apagadas pela história lembro, vou citar duas de inúmeras. Uma é Maria Firmina, a primeira mulher brasileira negra a publicar um romance aqui no Brasil, e que, entretanto só começa a ficar visível na década de 1960 e pelo tamanho, a importância dela pra literatura, a visibilidade que ela tem é mínima. A outra é Francisca Clotilde, importante escritora negra do Ceará, que se você perguntar para muitas pessoas, inclusive da área da literatura, não saberão de quem se trata. Eu mesmo descobri ela tem pouco tempo porque faço pesquisas na área.


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VVemDia | E como melhorar essa visibilidade na literatura, na Academia?

Como professora não posso deixar de pensar sobre os livros infantis. É importante produzirmos uma literatura onde a criança negra se veja representada, com protagonistas negros, que sejam interessante, que causa empatia. Que a criança negra se veja de fato representada nesse protagonismo.


Precisamos trabalhar para preencher a lacuna, que é de séculos, deixada historicamente onde a questão negra ficou à margem.

Graças a Deus a Academia (ALVV) abriu suas portas, me elegeu, tô muito feliz. É como muita satisfação que eu vou colocar em pauta todos os trabalhos da academia a questão da mulher preta. Vou inserir as nossas pautas nas da academia, nos eventos que já ocorrem. Eu não posso chegar já querendo fazer grandes transformações, né? Eu tenho em comum com o meu patrono, José Maria da Silva Paranhos, é a questão da diplomacia. Eu acredito que melhor forma de conseguir as coisas é usar a diplomacia. Também penso em contribuir com inovação, pensando na execução de alguma ação específica sobre essa pauta, mas aí é um assunto pra um outro momento, né?


VVemDia | E a representatividade do negro na sociedade, como avalia?

Na sociedade, a questão é longe de superarmos o racismo, o preconceito. Mas temos que continuar o trabalho para que a mulher preta seja respeitada, valorizada. Na questão do mercado de trabalho, sabemos que recebem menos que a mulher branca, que o homem branco e até do que o homem preto. Essa é uma luta, uma pauta do movimento feminismo negro.


Outra questão importante é a sexualização do corpo da mulher preta, que no imaginário fica que esse corpo pertence a todos e qualquer um pode tomar. Várias questões decorrem daí e precisamos mudando na sociedade.


Mulher preta quer o que todos querem e exigimos, o respeito!
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