Opinião | Por uma educação cultural suprapartidária por Ítalo Wyatt
- Redação
- 16 de ago. de 2022
- 2 min de leitura

Por Italo Samuel Wyatt*
Hoje (18/06), iniciam-se oficialmente as campanhas eleitorais em todo país. Certamente, numa nação desolada pela mortandade da Covid-19, fome endêmica, tentativas de golpes de Estado e estagnação econômica, a exacerbação do discurso criminológico sensacionalista e de opressão às minorias dominarão as propagandas políticas.
Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou uma campanha de conscientização entre jovens de 16 a 18 anos para que emitissem o título de eleitor. Uma faixa etária tão grande, antenada às redes sociais e em processo de formação acadêmica não pode ficar de fora da tomada de decisões do país.
Frequentemente, dialogo com adolescentes e jovens na Academia de Letras de Vila Velha. Apesar da vontade de falar sobre a dívida pública e sobre a teoria do poder, limito-me a transmitir conhecimentos sobre arte, filosofia e religião, já que a Casa Humberto de Campos não possui ideologias, posicionamentos políticos e mantém-se como ambiente exclusivamente cultural.
Ao receber alunos da rede pública e privada, questiono-os sobre as suas leituras. Com raríssimas exceções, fico absolutamente espantado ao saber que os novos eleitores do Brasil simplesmente não leem. A maior parte deles sequer abriram um livro, em todo o ano. Numa turma, apelei até para a leitura bíblica e descobri que apenas uma aluna da classe já abriu pelo menos um livro em sua vida.
Nesta gestão, a Prefeitura de Vila Velha adquiriu milhares de novos livros para as bibliotecas e projetos como o prestigiado Entre Versos e Rimas (antologia dos alunos da rede pública) reafirmam políticas para uma educação ampla e que liberta. Todavia, as ações de fomento à leitura e capacitação tornam-se inviáveis se não houver consciência coletiva sobre a importância da leitura na formação do cidadão.
Por isso, indago-me: como seria mais consciente e imune de proselitismos o voto de um cidadão que lera obras como Memórias do Cárcere (Graciliano Ramos), O Quinze (Rachel de Queiroz), Capitães da Areia (Jorge Amado), Quarto de Despejo (Maria Carolina de Jesus) e o celebrado Torto Arado (Itamar Vieira Júnior)?
Qual político demagogo conseguiria envenenar com as seivas do preconceito e da grosseria alguém que conhecesse a história do Brasil pelas laudas de Gilberto Freyre? O jeitinho brasileiro na política permaneceria corrompendo as cúpulas dos poderes se tivéssemos consciência da nossa condição de “homem cordial”, conforme observou Sérgio Buarque de Holanda? Aceitaríamos na Câmara Federal um vereador de Vila Velha que é capaz de ofender o decoro de um colega e a própria honra da Câmara Municipal através de um discurso extremista?
Tantas perguntas, uma certeza. A ingenuidade do nosso povo é o caminho para o eterno retorno ao passado. Já a formação cultural de crianças, adolescentes e jovens é a vereda iluminada que nos libertará da condição de oprimidos. O Brasil precisa de mais leitores.

*Italo Samuel Wyatt é advogado, especialista em Direito Criminal e Segurança Pública, autor de obras literárias e membro da Academia de Letras de Vila Velha.
Importante reflexão. Sem leitura, sem arte, sem culrura (e sua importância enquanto direito e princípio formador de cidadãos conscientes), o que será de nós?